terça-feira, janeiro 13, 2009

perspectiva(s)

Daqui vejo os montes, os cumes, as montanhas, as nuvens e a neve.

Sei que se subir mais alguns metros, verei tudo isso, mas também os vales, as planícies, os prados, o céu azul e o sol.

Neste momento é-me tão difícil subir...

quarta-feira, novembro 26, 2008

vamos celebrar

Estive ausente mas nunca deixei de aqui vir (buscar o ar e a vontade que só tu me sabes dar).

Hoje convoquei as pessoas, os pássaros que ainda andam por cá neste tempo frio, as ruas já animadas de Natal. Hoje vesti-me de gala, escolhi a melhor ementa, decorei o nosso espaço com pompa. Hoje contratei a melhor orquestra e seleccionei o bailado mais donairoso.

Vamos celebrar.

Parabéns! ;)

terça-feira, maio 29, 2007

a um palmo do céu

A vida é uma montanha russa. E se, por acaso, ainda não experimentámos a vertigem e o pânico da descida descontrolada, isso não significa que fiquemos eternamente nas alturas, inebriados pela paisagem. Um tempo haverá, um tempo chegará, provavelmente quando menos esperarmos, em que sentiremos o estômago subir-nos à boca e em que o diafragma nos atrofiará os pulmões. O vento arrancar-nos-á lágrimas dos olhos e o coração tentará cavalgar para longe da jaula que o comprime.

Nesse tempo, nesse momento, se eu sentir a tua mão na minha, o teu corpo junto ao meu,...

... então, saberei que só descemos para podermos apreciar ficar novamente a um palmo do céu.

sexta-feira, março 23, 2007

parabéns

Como uma árvore antiga cujos ramos se entrelaçam firmemente noutros mais viçosos e que deles sugam seiva rejuvenescedora em troca de robustez serena, assim eu me agarro firmemente a ti, esperando que não notes que a robustez é ténue e que a serenidade só chegou contigo.

Parabéns.

o meu mar

Nasci há muitas primaveras, sob uma rocha no alto de um monte. A princípio, era nada. Na paisagem que dominava das alturas, via tudo, queria tudo. Encetei caminho.

Comecei com optimismo. O declive ajudava. Foi-me fácil abrir caminho, serpenteando entre fragas e silvas, contornando escarpas e grandes árvores. Enquanto descia o monte, ia ganhando confiança que é como quem diz, velocidade. Embriaguei-me de liberdade.

Descido o monte, fui perdendo embalo. A paisagem, ao perto, não me parecia tão luxuriante e já não conseguia avistar grandes distâncias. Tinha mesmo de me concentrar em não ir de encontro aos obstáculos que povoavam o meu trilho. Continuei sereno, contudo. Sabia que o rumo era em frente. Um qualquer encantamento fazia-me continuar a persistir por entre escolhos e perigos até ao horizonte, algures na paisagem longínqua, onde chamavam por mim.

Nervoso, a princípio, titubeante até, fui assim mesmo cavando o meu leito onde espraiei a minha vontade, a minha força, a minha determinação. Muitas vezes tive de levar na enxurrada do meu arrojo pequenos-grandes estorvos e barreiras, para logo a seguir ver a minha resolução amestrada por margens escarpadas que me comprimiam.

Com o tempo, fui ganhando serenidade e confiança. O leito por mim esculpido era já largo, a minha força era apenas capricho. As paisagens eram belas e suaves, e as margens cediam-me espaço de que eu não precisava. Passava dias tranquilos, nadando com os peixes, correndo com o vento, deslizando sob as pontes. Mas...

Mas não fora ainda por isto que eu havia abandonado o monte sobre a paisagem.


Só quando cheguei aqui tudo fez sentido: o caminho era até ti.

Tu és o mar que eu alimento e que me acolhe; que eu acolho e por quem sou alimentado.

Aqui, completo-me, realizo-me: tu chamavas por mim e eu vim até ti, encantado...

quinta-feira, março 22, 2007

regresso

Sabes... ontem tive medo... E, por isso, empreendi o meu regresso. Necessitava voltar a pisar a firmeza do chão para prosseguir caminho, desejava reciclar e, de seguida, ampliar esta certeza que tu tão brilhantemente me ensinaste a transpirar. Senti medo...
Alimentei-me e parti, saciada, ao teu encontro. No meu passo inseguro...

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

breve

Pudesse eu
asfixiar este instante
tão longo
neste instante
agora
respirar
por breve instante,
muito breve,
a tua aragem.
Se pudesse...
Inspirar-te.
Sem ar
sufoco
as horas longas
tão longas
ansiando a voz
o sopro fresco
a tua noite
em breve,
tão breve
agora.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

divagações sobre Física

Nunca se nota tanto uma presença como no momento em que se transforma em ausência. Julgo que é afirmado, na Física, que dois corpos não poderão ocupar simultaneamente o mesmo espaço. Eu, que não sou muito versado em Física, tiro daqui o corolário que quando um corpo desocupa um espaço, logo outro o vem ocupar.

Isto, contudo, não me é nunca reafirmado pela minha experiência de vida: muitas vezes sofri ausências que não foram colmatadas por novas presenças. A não ser que se considere a solidão um corpo. Ou a dor. E, bem vistas as coisas, frequentemente tornavam-se presenças incontornáveis...

(Dor que, tantas vezes, se metamorfoseia em raiva. Ou em desespero).

Foi por estes momentos de solidão, de dor, de raiva e de desespero que aprendi a valorizar a presença, não deles, mas antes da alegria, da felicidade, do prazer e da serenidade. Hoje, consigo identificar estes estados de espírito precisa e imediatamente. Consigo desfrutá-los. Consigo discernir quais as suas fontes.

Não tenho dúvidas: sei o que me espera quando - e se - eles se me ausentarem; por isso, mimo-os; rego-os delicadamente; acaricio-os; acolho-os no meu colo com desvelo. E vivo estes momentos em toda a plenitude sem os empurrar do seu espaço; sem convocar fantasmas ou aparições (in)desejadas; sem antecipar problemas; sem medo.

O ser humano habitua-se a tudo. Também à solidão; à dor; à raiva; ao desespero. Mas tenho bem presente na minha memória a última vez que o seu espaço foi ocupado por um novo corpo. E nunca se me assinalou tanto uma ausência como no momento em que se transformou em presença...

nós

Ouvi dizer (disseram-me?) que os nossos nós mostram a beleza que os entrelaça somente quando ficam cruelmente desatados. Nem sempre possuímos o sol, os festejos vivem de inflexíveis datas cravejadas no calendário, duas mãos apertadas empalidecem no gelo, as flores não partilham o seu perfume todos os dias, as montanhas não se erguem para que projectemos, do seu cume, o idílio da vida, porque a sua presença enfatiza ausências e desnuda invejas, como se o desejo de tocar os céus fosse pretensão altiva. Um dia, os rios estagnarão sedentos, a música desafinará os silêncios oportunos, qualquer manjar não terá apetite que o devore, as almas aposentar-se-ão e os sentimentos desfalecerão como círios gastos e descrentes. Ouvi dizer que fotografias de faces fugazes e felizes traduzem necessariamente negativos negros e nefastos. O encantamento não passa de um capricho da nossa imaginação com reduzidíssimo prazo de validade.

Não suporto ouvir dizer (dizerem-me?)... Adormeço os ouvidos, não quero escutar, solta-se a palavra. Ouvir-me-ão dizer (direi?)... Não se aniquilam devaneios assim tão abruptamente. Refugio-me em casa, emolduro e arquivo felicidade, preparo um novo e impaciente álbum, confio em faces felizes, raspo os desencantamentos que arderam na pele, mas reacendo esperança. Preparo uma lauta refeição por simples gula. Chamam-me tonta....

Erguem-se montanhas quando acreditamos em flores de indeléveis aromas: em cada elevação, uma corda. Forca ou escada. Os fios torcidos oferecem-nos degraus, insinuam fragilidades, expõem o precipício, estendem a mão. Reforçam-se os laços quando eles ousam esmorecer, firma-se o encantamento.Creio que um dia morrerei cantando, ainda que acompanhada por inaudíveis violinos de cordas fatigadas, num leito de águas tranquilas, lacrando nas mãos a secreta beleza das amarras. Atando nós (direi seguramente).

segunda-feira, janeiro 22, 2007

entraste em mim

Por vezes lembro que me esqueço de ti, Falésia. E, de imediato, atribuo este meu esquecimento ao facto de vivermos numa espécie de simbiose. Todavia, só ontem tomei consciência desta verdadeira comunhão, quando rodopiava, compenetradamente distraída, sobre oportunidades passadas. Não te vislumbrei em nenhum dos mais pensativos recantos; na verdade, era impossível descobrir-te enquanto não me descobrisse também.
Como podia eu contemplar-te? Se estás dentro de mim e eu vivo em ti? Fundi-te na minha existência, numa liquefacção que apagou o marco do tempo: desenho-te como se estivesses estado sempre comigo, sem conseguir destrinçar com exactidão o lapso em que foste apenas esboço ténue.
Não obstante, admito que já fui precavida, distante, impenetrável; gastei o escudo azado da tua sombra, ensaiando-o como barreira de protecção.
Hoje, implicitamente, não me permito esta contenção, autorizo o nosso encontro: tu franqueaste a minha permanência; eu deixei-me comprometer. Não pondero (nem desejo) inverter a marcha, reunir fragmentos de passado e voltar. Despojo-me de medos, de vertigens, de angústias, de consequências antecipadas, aventurando a minha pele ao frio que possas segredar-me, e comunico-te que não quero retornar, perder a tua luz. Entendo-te. Dispo-me, para ti. Sinto que me entendes. Completei-me contigo e agora és pedaço do meu ser, fazes-me falta.
Esqueço-me de ti, porque entraste em mim. E, estando comigo, não podes ser alcançada pelo manto culpado do meu esquecimento.
(sempre comigo a lembrança, esqueci-me de ti, entraste em mim, pedaço do meu ser que faltava vestir.)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

ano novo

Neste ano que começa, quero que continues. Eu perseverarei.

Neste amor que continua, quero que comeces. Eu prosseguirei.

Nesta vida que escolhemos, quero-te.



Eu quero-te.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

cinco sentidos

"(...)
A ti!, ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti."

em Folhas Caídas

Almeida Garrett

quarta-feira, novembro 29, 2006

(des)encontros

É lugar-comum dizer que a vida é feita de encontros e desencontros.
Concordo com esta dicotomia no sentido relativo, ou seja, o encontro ou desencontro tomando como ponto de referência alguém ou um determinado objecto: se nos desencontramos do alvo que pretendemos encontrar, deparamo-nos com um outro encontro, apesar de não o catalogarmos como tal.
Ontem desencontrámo-nos... Felizmente, o desencontro foi somente a ausência de partilha de um mesmo espaço físico.
Na ânsia de te encontrar logo pela manhã, espreito curiosa os teus blogs. É um gesto que executo com naturalidade, dia após dia; interiorizei esta rotina prazenteira nos meus afazeres, faz-me sentir muito próxima de ti. E, quando não colocas textos novos, leio ou releio o teu passado literário, experimento interpretá-lo, esboço conjecturas sobre o significado dos teus relatos, arrisco dissecar as tuas personagens, julgando poder extrair delas os teus traços, convicções, dúvidas, receios, angústias, alegrias, a tua essência. E, por mares de palavras, ondulo ao teu encontro...

segunda-feira, novembro 27, 2006

criámos passado

Hoje, quando falava contigo, dei-me conta, dei-me realmente conta de que criámos passado. Senti-me assomado por uma sensação reconfortante, de orgulho. De responsabilidade.

Sorri interiormente.

Criámos passado... e isso dá-me tanta confiança no futuro.

sexta-feira, novembro 24, 2006

bom dia

Era bom se pudesse falar contigo agora. Segredar-te que acordei, mas desejei voltar a dormir. Dizer-te que me preparei mecanicamente para mais uma jornada de trabalho; que o carro saiu de casa preguiçoso, arrastando-me para a rotina e lembrando-me o depósito (quase) vazio de gasolina. Sorte a distância a percorrer ser exígua! Queria comentar que o sol não compareceu hoje; que a chuva cai de forma intensa, transformando a rua num caudal de águas lamacentas; que, após estacionar o veículo, caminhei até aqui rejeitando o abrigo do guarda-chuva, atitude que deixou o meu cabelo num estado lastimoso e atirou por terra os quinze minutos desembolsados com o secador. No entanto, as gotas de água refrescaram-me a alma, deram um novo alento à manhã, fazendo esquecer uma noite mal dormida. Ontem, nem o teu beijo, primeiro fogoso, depois aparentemente apaziguador, me serenou o espírito.
Hoje, eu queria simplesmente exclamar bom dia ao teu ouvido, enumerar os sorrisos que cumprimentei no meu percurso matinal. Elogiar a nossa existência. Partilhar as expectativas de sexta-feira. Sentar-me. Ligar o computador. E despedir-me, com um breve até logo.

quinta-feira, novembro 09, 2006

sorriso (II)

Gosto de rir contigo.
Abracar-te e rir infantilmente,
Contagiando semblantes.
Com a nossa gargalhada,
com a nossa alegria.
De estar, de ser.
De sermos.
De existir contigo.
Juntos, um só sorriso.
O nosso sorriso.

sorriso (I)

O dia havia nascido cinzento, pesado, sem graça. Mas ela sentia-se mais leve que nunca. Sorriu, rodou a cabeça para a esquerda, observando dissimuladamente a sua condução descontraída, e riu. Ah! Como desejou aquele momento! Percorreram o extenso alcatrão, desembrulhando palavras decomprometidas, efémeras, sem importância. Trivialidades. E entoaram músicas das suas infâncias.
Mais tarde, recordou o mar sereno, o areal, o seu rosto, a pacatez da vila, a esplanada semi-deserta, as placas desbotadas das casas comerciais, a calmaria das ruas estreitas, o seu rosto, um gatinho perdido, as casas honestas dos velhos pescadores e o seu rosto.
Recordou o rosto dele e, em particular, o seu sorriso...


O sorriso deles.
Arrebatador.
E a sua cumplicidade.
Tão espontânea.
Tão nossa.

quarta-feira, novembro 08, 2006

naquela querida data

Naquela data querida desejei silêncio: um breve, mas proveitoso silêncio.

Quero, ainda que por um instante, hipnotizar o mundo, estancando e silenciando rebuliços, pressas gritantes, exigências descabidas, supremacias injustificadas.
Quero que, para o mundo, só nós existamos; e que, para nós, o mundo seja apenas preenchido por ti, oceano imenso, e por mim, terra firme. Tu e eu, ainda que por um único instante...
Quero que todos se emudeçam perante a nossa construção. Fazendo-se silêncio, desejo contemplar-te, redescobrir-me no teu olhar, contornar o teu rosto terno, percorrer o teu tronco forte, perscrutar a tua alma. Desfrutar-te. Lentamente. Suspendendo o tempo entre os nossos corpos... E, nesse instante, quebraremos a pausa que provocámos no mundo, devolvendo-lhe o som e a energia, seduzindo-o com a nossa luz e autenticidade, mostrando-lhe que o nosso amor quer edificar mais que uma vulgar alvenaria de sentimentos.
Quero, como tu, uma construção sólida, fresca, quente e forte e brilhante e livre. E bela.
Quero ensinar ao mundo os ingredientes do nosso cimento, fazê-lo olhar calmamente a vida através das nossas janelas... Em telhados de silêncio.

terça-feira, novembro 07, 2006

hoje acordei

Hoje acordei não estavas não te vi senti a falta a tua falta a falta do teu sorriso do teu abraço do teu conforto Hoje acordei e não vi o sol não vi a praia não vi a água não não vi não te vi Hoje acordei e apeteceu-me adormecer mas tu não me sorriste tu não me abraçaste tu não me beijaste e apeteceu-me adormecer mas acordei sem mim porque sem ti Senti Acordei e estava só estava com frio estava desconfortável estava mas não estava porque estava aqui sem ti e estava aí contigo e não estava realmente em lado algum e estava mas não era e não era porque não estavas Hoje acordei e faltou-me um pedacinho de mim doeu-me a tua ausência pesou-me a tua lembrança e quis correr para ti e quis mergulhar em ti e quis andar contra a brisa contigo e quis dar-te a mão e quis rir-me contigo falar contigo olhar-nos contigo estar contigo ser contigo

Quero acordar contigo Quero adormecer contigo Quero sempre

Hoje acordei com saudade saudade saudade

quinta-feira, outubro 26, 2006

nesta data querida

Nesta data querida, neste regresso, sinto-me contente por estar, voltar. Porque hoje é dia de festa, a minha alma canta para ti, para a nossa construção. Longos anos perdure! Como pedra, sólida; como maresia, fresca; como sol, quente; como tu, bela.

Sem senão, sem se extinguir com a aragem de um sopro fortuito, antes empurrada pelo vento de popa, até à linha do horizonte! Como onda, forte; como areia, brilhante; como gaivota, livre; como te amo, bela!